Controlar o Desejo de Posse
É difícil, senão impossível, determinar os limites dos nossos desejos razoáveis em relação à posse. Pois o contentamento de cada pessoa, a esse respeito, não repousa numa quantidade absoluta, mas meramente relativa, a saber, na relação entre as suas pretensões e a sua posse. Por isso, esta última, considerada nela mesma, é tão vazia de sentido quanto o numerador de uma fração sem denominador. Um homem que nunca alimentou a aspiração a certos bens, não sente de modo algum a sua falta e está completamente satisfeito sem eles; enquanto um outro, que possui cem vezes mais do que o primeiro, sente-se infeliz, porque lhe falta uma só coisa à qual aspira.
A esse respeito, cada um tem um horizonte próprio daquilo que pode alcançar, e as suas pretensões vão até onde vai esse horizonte. Quando algum objecto se apresenta a ele nos limites desse horizonte, de modo que possa ter confiança em alcançá-lo, sente-se feliz; pelo contrário, sente-se infeliz quando dificuldades advindas o privam de semelhante perspectiva. Aquilo que reside além desse horizonte não faz efeito sobre ele. Eis por que as grandes posses do rico não inquietam o pobre, e, por outro lado, o muito que já possui, se as intenções são malogradas, não consola o rico. A riqueza é como a água do mar: quanto mais a bebemos, mais sede sentimos. O mesmo vale para a glória. O que explica a pouca diferença entre a nossa disposição habitual e a anterior, após a perda da riqueza ou do conforto e tão logo a primeira dor é superada, é o facto de nós mesmos reduzirmos em igual extensão o factor das nossas pretensões, depois de a sorte ter diminuído o fator da nossa posse. Num caso de desgraça, essa operação é propriamente o que há de doloroso. Uma vez consumada essa operação, a dor torna-se cada vez menor e, por fim, deixa de ser sentida; a ferida cicatriza-se. Pelo contrário, num caso de felicidade, o compressor das nossas pretensões recua, e estas dilatam-se. Nisso reside a alegria, que dura apenas até o momento em que essa operação for totalmente consumada. Nós acostumamo-nos à escala ampliada das pretensões e tornamo-nos indiferentes à posse correspondente a elas.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
E um dia... resolvi que... este blog seria o meu caderno de receitas entre as minhas e as dos outros claro, que seja uma ajuda para quem gostar e precisar... para mim é um prazer. "Cozinhar é simultaneamente uma brincadeira de crianças e um prazer de adultos. Cozinhar com zelo é um ato de amor". Craig Claiborne
Acerca de mim
- Carmen Rodrigues
- O homem é um animal social e como tal tende a basear a sua vida no relacionamento com os outros.
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